Quênia – Kakuma: a cidade da misericórdia
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05 abril 2016

(ANS – Nairóbi) – Os Salesianos da Inspetoria da África Leste (AFE) atuam na África oriental desde 1980, no Quênia, Tanzânia, Sudão e Sudão do Sul. A Inspetoria conta atualmente com 28 comunidades, que trabalham a serviço dos jovens com obras variadas, entre as quais institutos técnicos, escolas médias, paróquias, centros juvenis e um campo de refugiados em Kakuma.

de Giovanni Rolandi

No Quênia, oferecemos a formação técnica através dos nossos institutos: o Dom Bosco, de Embur, Makuiu; a Cidade dos Jovens, em Nairóbi, e o campo de refugiados “Dom Bosco”, em Kakuma, no condado de Turkana. Temos uma presença consolidada no campo de refugiados de Kakuma e trabalhamos a serviço deles desde 1993 no âmbito da formação profissional como parceiros operativos do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (UNHCR). Segundo várias consultas e uma avaliação das necessidades efetivas feita pelo UNHCR, seria necessário a ampliação do campo de ação do centro Dom Bosco Kakuma no âmbito da instrução técnica, para possibilitar a acolhida de um maior número de alunos entre os refugiados e os membros da comunidade de Turkana e oferecer-lhes uma formação mais profunda.

Nós Salesianos temos mais de 30 anos de experiência no campo da instrução profissional no Quênia; por isso, acreditamos ter a competência e as capacidades técnicas necessárias para oferecer uma formação profissional completa aos refugiados e aos jovens acolhidos na comunidade e contribuir para o desenvolvimento econômico do Quênia e possibilitar uma fonte alternativa de renda depois dos efeitos que as mudanças climáticas determinaram na sua economia global, transformando a vida de muitas pessoas.

Administramos um centro principal, que propõe todos os cursos que oferecemos com programas de matemática e informática; um segundo instituto localizado no campo, no qual formamos todos os anos 320 jovens no setor agrícola; um terceiro, que tem uma organização tecnológica a serviço da comunidade e oferece cursos de informática e tecnológicos, programas de alfabetização e aritmética; e uma quarta, nova sede, em que desde o início do ano iniciamos diversos cursos.

Nos anos passados, o Centro Dom Bosco de Kakuma formou milhares de jovens. Em 2015, nos vários centros que administramos no campo inscreveram-se 3774 alunos e 2843 deles receberam o diploma. Concluído o período de formação, nossos alunos enfrentam um exame feito pelo governo do Quênia (NITA) obtendo diploma oficial. No próximo ano, esperamos iniciar itinerários de preparação que permitam adquirir ao menos uma qualificação profissional. No momento, somos capazes de oferecer apenas cursos básicos no âmbito da formação técnica, mas gostaríamos de propor programas que permitam aos alunos adquirirem competências suficientes nos setores escolhidos por eles. O UNHCR e outras instituições têm apoiado plenamente este projeto e gostaríamos que fosse realizado o quanto antes.

Com estes pressupostos, iniciamos a construção de um Instituto Técnico ligado ao próprio campo. Depois de obter as autorizações necessárias da Congregação e após um diálogo com a Diocese, dispomos de um ótimo terreno, que projetamos cercar. Foi também individuado o local para um poço. Já recebemos os projetos e os orçamentos, mas estamos à espera de receber de algumas instituições caritativas os fundos necessários para construir o Instituto.

A paróquia católica Santa Cruz

Os Salesianos atuam a serviço da única paróquia católica de todo o campo de refugiados de Kakuma, paróquia “Santa Cruz”, pertencente à Diocese de Lodwar. Ali estão apenas dois sacerdotes salesianos, que já trabalharam na gestão dos centros de formação profissional, coadjuvados por 2 irmãs, 2 catequistas em tempo integral, 8 catequistas colaboradores e leigos, que exercem funções de guia na paróquia, nos vários grupos ali ativos. A paróquia conta com 8 centros, nos quais é celebrada a missa. Também estão ativas 45 Pequenas Comunidades Cristãs, guiadas por animadores muito empenhados, acompanhados por 2 Irmãs. A presença de um grande número de jovens, que percentualmente são a maioria dos refugiados do campo, constitui um âmbito de apostolado ideal para os Salesianos.

Os ‘Savio Club’

Às vezes, surgem entre os refugiados incompreensões e tensões devido a tribos diversas. Nem sempre os níveis formativos estão à altura dos modelos previstos para os alunos das escolas primárias, dado o grande número de crianças que frequentam as escolas e a carência dos recursos. Tomamos ciência dessa situação e elaboramos um programa de formação suplementar para as crianças entre 6 e 11 anos, às quais ensinamos inglês, kiswahili, matemática, higiene, boas maneiras, catecismo e orações. As crianças têm todos os dias três horas de aula. Nas sucursais da paróquia, temos atualmente 600 crianças que participam deste projeto. É admirável ver como falam diversas línguas, interagem com pessoas de diversas tribos, obtêm bons resultados na escola elementar e, no conjunto, são muito inteligentes e preparados. Com a ajuda do dr. Alfons e de um grupo de trabalho vindo da Alemanha, podemos ajudar estas crianças a serem bons cristãos e cidadãos honestos.

O Centro Juvenil Dom Bosco

Quem vive no campo de refugiados observa que muitas crianças e jovens participam das atividades propostas por quem administra a instituição. Muitas crianças e jovens frequentam o nosso centro para participar dos jogos, dos momentos de oração e da recreação. Esta orientação está em plena harmonia com o pensamento de Dom Bosco de manter os jovens longe das ruas, nas quais ficam expostos a todo tipo de perigos, e oferecer-lhes um ambiente seguro e estimulante. Utilizam o limitado espaço disponível no campo. Entretanto, procuramos um local adequado para a escola e o oratório.

E Deus tem os seus planos e dispõe a seu tempo sobre a sua realização. Enquanto procurávamos um espaço para isso, próximo de nós, devido às intensas chuvas que caíram no ano passado foi necessário transferir muitas pessoas para zonas mais seguras. Tornou-se assim disponível um bom terreno. Após o nosso pedido, o Governo e o UNHCR concederam-nos o terreno, que já cercamos e no qual projetamos criar campos de futebol, netball, basquete e uma sala multiuso.

Se dispusermos dos fundos necessários, gostaríamos de construir uma sala para que nós e outras instituições possamos propor programas para os jovens e encontros para o público em geral. A esse conjunto será dado o nome de “Centro Juvenil do Campo de Refugiados de Kakuma” e será um lugar de encontro para muitas pessoas.

Estas são algumas das atividades realizadas no Centro “Dom Bosco” de Kakuma. Somos a única instituição presente no campo e devemos, pois, enfrentar vários desafios, mas também somos apreciados por isso. Estamos certos de que Dom Bosco estaria orgulhoso da dedicação dos seus filhos que se preocupam com estas pessoas marginalizadas. Nossa vida com elas recorda-nos que a nossa casa permanente não é aqui na terra, mas que devemos empenhar-nos profundamente para transformar em céu a casa que temos aqui na terra.

Num mundo em que são evidentes as consequências do mal, a tarefa de construir o paraíso aqui na terra é trabalhosa, mas possível.

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