Se a vida valer pelo valor monetário, então, em Gambela – onde também quem tem um emprego ganha somente um euro por dia – vale dezenas de vezes menos do que a de um cidadão europeu.
Se valer pelos títulos escolares, então, em Gambela – onde 85% das pessoas ainda não sabe nem ler nem escrever – a vida vale realmente pouco.
Se valer pelas vezes que V. come por dia, então em Gambela – onde, se for ‘sortudo’, come uma só vez por dia – a vida vale pouquíssimo.
Se valer pela expectativa de... vida, então, em Gambela – onde os mais velhos chegam a raspar os 50 – as pessoas têm ‘uma’ vida, enquanto, no Ocidente, têm ‘duas’.
Se valer pelos remédios que pode comprar, então em Gambela – onde com frequência faltam ou custam o olho da cara – a vida não vale quase nada.
Se valer pelo sexo com que nasce, então, em Gambela, as mulheres não valem absolutamente... nada.
Se valer pela estação da vida, então, em Gambela – onde o adolescente e também a... criança para crescerem se devem virar sozinhos – a vida vale realmente assaz pouco.
Se valer pela a cor da pele (atribuindo à cor branca o máximo e à negra o mínimo), então em Gambela – onde a gente é a mais negra do Globo – a vida vale pouquíssimo.
Se valer pela grandeza da casa, então em Gambela – onde as choupanas são de pau a pique – a vida vale pouco.
Se valer pelas comodidades que há dentro de casa, então em Gambela – onde não há nada disso – a vida não vale quase nada.
Se valer pelas vezes que se sai aos sábados de noite, então em Gambela – onde de noite é melhor se ficar em casa para não ser agredido – a vida vale pouquíssimo.
- Quanto vale pois uma vida? Por quais critérios se avalia uma PESSOA?
Se os critérios forem os exemplificados acima, então, como em Gambela – sobretudo nos povoados de Pugnido, Otiel, Two, Thatha… – a vida estará no último degrau da escala de graduação. Antes: nem sequer aparecerá!
Faço votos para que, à luz da Páscoa, esta reflexão – feita aqui de olhos abertos para a nossa realidade – possa fazer-nos pensar sobre ‘onde esteja o verdadeiro valor da Vida, da Pessoa’!
