Onde está seu coração, ali está o teu tesouro
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09 maio 2019

O romance "O novo mundo", escrito em 1932, é sem dúvida uma das visões literárias que mais claramente anteciparam os eventos que estamos vivendo. O autor, Aldous Huxley, percebeu que, para manter um sistema de produção em massa funcionar, em vez de subjugar as pessoas com a força, era mais produtivo fazê-lo, oferecendo pequenas, mas constantes, recompensas. As pessoas, assim, teriam uma ilusão de felicidade no consumo, de tal maneira que se disponibilizariam a sacrificar sua liberdade.

A genialidade de Huxley foi adivinhar que no futuro não seríamos controlados pela autoridade, mas sim pela gratificação, diversão e entretenimento. As pessoas que ainda falavam sobre a beleza, a verdade e direitos de cada um como prioridade de vida, na verdade eram movidas apenas pela busca por uma existência confortável, pacífica e feliz. m uma sociedade deste tipo, as pessoas estavam prontas para serem conduzidas para uma passividade na qual dinheiro, tecnologia e consumo seriam divinizados.

"O novo mundo" é uma metáfora precisa para o nosso tempo e, em certo sentido, nos oferece uma chave de leitura plausível para entender por que a maioria das pessoas, embora compreenda claramente a importância dos valores propostos por nossos líderes religiosos, na prática não adere a eles, mesmo quando afirmam concordar com eles.

O mito da participação à "felicidade através do consumo" é nutrido, nas pessoas, por um sistema que precisa mover uma máquina de produção em massa, que lhes propõe, por meio da mídia, um pacto implícito: o sacrifício do relacionamento com os outros em nome de uma competição para alcançar "a própria felicidade", sem deixar espaço para “frescuras” como solidariedade, sacrifício e verdade.

Talvez o mundo moderno tenha consolidado a noção de que o ser humano é capaz de construir sua própria felicidade suprimindo a presença do outro, que representa a ameaça do que é diferente e pode buscar, sozinho, o máximo do conforto e do prazer que pode ser obtido no consumo de bens e serviços. Nesse contexto, os valores que oferecemos em nossas escolas, paróquias, centros juvenis e oratórios, infelizmente soam, para a maioria dos jovens, como uma doce melodia bem distante da realidade cotidiana, realidade esta que os mantém constantemente ocupados na busca da melhor maneira de: consumir e construir um mundo despreocupado, onde todos os riscos são controlados e, na medida do possível, todos os tipos de conflitos e pobreza são removidos.

Huxley envia um claro sinal de alerta para essa época na qual a ilusão de que "o homem nasce apenas para ser feliz" é promovida e apoiada. Se o homem nasceu apenas para ser feliz, ele não teria nascido para morrer. Mas sabemos que a morte é inevitável. Em um ato de lucidez, precisamos olhar para a nossa vida e reconhecer que ela não pode ser apenas feita de satisfação e prazer. Chega uma hora em que os placebos não surtem mais nenhum efeito e somos obrigados enfrentar questões sobre o significado de nossa jornada na vida, a mesma que deveria conduzir-nos, como seres humanos que somos, ao crescimento moral e ao crescimento de nossas faculdades, antes de sermos chamados à nossa morada final.

Estamos vivendo um momento crucial em nossa sociedade. É hora de ajudar-nos uns aos outros a abrir os olhos e ler os sinais que nos chegam e nos deixam desconfortáveis, tirando nossa segurança.

Devemos nos perguntar: onde realmente está nosso coração? Ou, mais claramente: nós realmente queremos fazer parte deste movimento que se esforça para tornar este mundo um lugar melhor, cuidando dos sofrimentos e necessidades de nossos semelhantes, ou queremos continuar a fazer parte deste paraíso hedonista povoado por seres "sintéticos" chamado "o novo mundo"?

InfoANS

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