Print this page

JESUS NOS BRAÇOS DOS PEQUENOS E DOS POBRES
Featured

12 fevereiro 2018

Jesus continua a salvar a humanidade através do nosso trabalho, da nossa doação, da nossa boa vontade. Ele continua a indicar-nos o caminho para que não percamos o sentido e a direção, e apoemos sempre os que passam mais dificuldade, os mais pequenos, os mais pobres, os últimos.

Uma comovente lenda de Natal narra que os pastores de Belém, depois de ouvirem o anúncio dos anjos, meteram nos seus bornais os melhores produtos do seu trabalho, queijos perfumados, mel, leite e doces, e puseram-se a caminho para os levar como presente ao recém-nascido Rei dos Reis.

Um rapazinho curioso e vivaço, acordado pelo tumulto, partiu com os pastores. Passado pouco tempo, apercebeu-se de que era o único de mãos vazias, até porque só possuía a roupa que tinha vestida. Nem sapatos tinha. Sentiu-se muito incomodado e caminhava todo murcho na retaguarda do grupo de pastores.

Quando chegaram ao lugar indicado pelos anjos, amontoaram-se em torno de José e de Maria que embalava o menino.

O pastorinho enfiou-se no meio dos pastores, chegou-se muito próximo de Maria e ficou ali a contemplar a cena de olhos arregalados e de boca aberta. Os pastores apinhavam-se para entregar a Maria os seus presentes e Maria, com o recém-nascido nos braços, tinha dificuldade em pegar nos generosos embrulhos, em sinal de alegria e de agradecimento. Então, sorrindo, entregou o Menino Jesus ao pastorinho que estava a seu lado. O rapazinho abriu os braços e recebeu com toda a felicidade do mundo o pequeno embrulho que gorgolhava tranquilo.

Assim o pastorinho, que julgava não ter nada para dar, deu a Jesus o calor e o sustentáculo dos seus braços. Naquela noite santa, em que o impossível se tornava possível, os seus braços tornaram-se o trono do Altíssimo. Ele que não tinha nada, nem sequer sapatos, levou o dom de Deus à humanidade.

A lenda interpreta bem a mensagem do Natal. Comunica-nos que Deus alinhou do lado dos pobres, dos humildes, dos mais necessitados, dos marginalizados e dos abandonados deste mundo.

Completemos aquilo que Jesus começou

Mesmo disto queria falar-vos.

Nas minhas diversas viagens, nos cinco continentes, de visita às presenças salesianas no mundo, encontrei-me em muitas situações em que o meu coração e os meus pensamentos me levaram a sentir e a pensar que as pessoas que encontrava, adultos, jovens, rapazes e raparigas, quase sempre dos mais pobres dos pobres, eram indubitavelmente os preferidos do olhar e do coração de Deus.

Somo-lo todos, certamente. Somos todos filhos e filhas, mas os últimos são os mais próximos do coração de Deus. Como uma mãe, que tem muitos filhos e ama a todos com um Amor incondicional e total, tem uma atenção especial e única pelo filho mais fraco e necessitado de cuidado, sem por isso tirar nem sequer uma migalha de amor a todos os outros.

Enquanto escrevo estas linhas, penso nos refugiados do campo de Kakuma no Kenya setentrional, onde a comunidade salesiana partilha a vida com eles desde há muitos anos.

Penso no campo de prófugos no Uganda, onde, depois da festa de Dom Bosco, no fim de janeiro, uma nova comunidade salesiana, com membros de várias nacionalidades, entra na história daquelas pessoas, e dos numerosos jovens que fogem da guerra, da fome, dos perigos que ameaçam diariamente a sua vida.

Penso em Yakutsk na Sibéria, o lugar mais frio do mundo, a vários milhares de quilómetros de distância de Moscovo, onde uma pequena comunidade salesiana participa na vida de minúsculos grupos de pessoas (que talvez sejam como o pequeno pastor da lenda), que os tinham recebido com estas palavras: «Damos graças a Deus por vós estardes aqui, começávamos a pensar que Deus se tinha esquecido de nós». Palavras como estas enchem o coração de uma satisfação única.

Penso nos garotos da rua que encontrei em muitas partes do mundo e que são os autênticos “descartados”, como diz o Papa Francisco, porque não tiveram na sua vida a mínima possibilidade de crescer na dignidade humana, e disse comigo mesmo que no estábulo de Belém teriam nos braços o Deus-Menino muito antes de mim.

Esta é a crua e tantas vezes dolorosa realidade que encontramos na vida.

E diante destas situações tão frequentes no mundo, mesmo quando ouvimos o Presidente das Nações Unidas dizer, com dor e preocupação, que o ano que terminou foi um ano em que as condições da humanidade pioraram e se correm muitos riscos, não podemos perder a Fé e a Esperança. Acreditamos sinceramente que Jesus Cristo veio para redimir e salvar precisamente esta Humanidade partilhando a nossa condição e a nossa história.

E continua a salvá-la através do nosso trabalho, da nossa doação, da nossa boa vontade. Ele continua a indicar-nos o caminho para que não percamos o sentido e a direção, e apoemos sempre os que passam mais dificuldade, os mais pequenos, os mais pobres, os últimos.

Esta é a nossa grande tarefa humana: completar aquilo que Jesus começou.

Também todos vós, vós que ledes esta página, sois convidados a continuar a construção de uma nova Humanidade e de um Mundo Melhor. Para que, tal como na lenda, os nossos braços mereçam verdadeiramente proteger e guardar o Filho de Deus, que Maria confia àqueles que nada mais têm a oferecer senão o seu coração.

Com a mais afetuosa bênção para 2018,

o vosso Reitor-Mor

Ángel Fernández Artime

O Papa Francisco pediu que se divulgasse esta imagem com o seguinte texto: “…o fruto da guerra. Um pequeno espera a sua vez no crematório com o irmão morto as costas. É a foto tirada por um fotógrafo americano Joseph Roger O'Donnell, depois da bomba atómica em Nagasaki. A tristeza do rapaz exprime-se só nos seus lábios mordidos e no sangue que ressumam. Francisco”.

Este sítio utiliza ‘cookies’ também de terceiros, para melhorar a experiência do usuário e para fins estatísticos. Escorrendo esta página ou clicando em qualquer de seus elementos, aceita o uso dos ‘cookies’. Para saber mais ou negar o consentimento, clique na tecla "Mais informações".