Vaticano – Apresentado o "Fundo Marega": milhares de documentos sobre o Japão feudal

03 março 2022

(ANS - Cidade do Vaticano) - Milhares de pergaminhos antigos, que relatam a perseguição contra cristãos entre os séculos XVII e XIX – um patrimônio histórico e cultural de valor imenso - foram restaurados e digitalizados graças a uma colaboração entre instituições vaticanas e japonesas, e estão agora à disposição dos estudiosos. Foi o salesiano missionário P. Mario Marega que o recuperou em 1953 e o fez chegar â Biblioteca Apostólica Vaticana, onde ainda se encontra guardado.

"Quis a história que o maior arquivo feudal fora do Japão seja agora guardado aqui na Biblioteca”, comentou o Card. José Tolentino de Mendonça, Bibliotecário e Arquivista da Santa Igreja Romana, na apresentação do projeto, que se fez na última terça-feira, 1º de março, na Sala de Imprensa da Santa Sé.

"São documentos fundamentais para reconstruir a história do cristianismo japonês; mas o seu valor histórico vai muito além desse quadro, constituindo um retrato variado da sociedade japonesa nos tempos pré-modernos", acrescentou o Cardeal.

Por detrás desse importante tesouro cultural está a obra do salesiano P. Marega, italiano, que viveu no Japão como missionário entre 1930 e 1974.

 Grande estudioso da cultura japonesa – foi responsável pela tradução ao italiano do Kojiki, o mais antigo texto mitológico japonês – através de uma rede de relacionamentos pessoais, conseguiu recolher milhares de ‘jō’, rolos de papel "esmagados", nos quais – após o edito do imperador em 1612, que proibia o cristianismo no Japão – , o Daimyo (senhor feudal) de Bungo (hoje Usuki, na prefeitura de Oita) tinha continuado durante décadas a estender relacionamentos sobre as famílias dos primeiros convertidos ao cristianismo. Uma enorme mole de 14.000 documentos antigos que, para além de oferecerem um testemunho da perseguição, pintam outrossim um quadro muito mais amplo da realidade dos campos japoneses, nos tempos pré-modernos.

O P. Marega em 1953 - através do Núncio Apostólico no Japão - conseguiu enviar este material, recolhido em 108 caixas, para o Vaticano. Mas tratava-se de um fundo difícil de catalogar para uma biblioteca ocidental. Estes documentos permaneceram assim  armazenados durante muitos anos e só foram retomados em março de 2011. Nesse ponto, o Projeto Marega foi reiniciado em colaboração com várias instituições acadêmicas japonesas, incluindo os “Institutes for Research in the Humanities (Institutos de Investigação em Humanidades) - Nihu. Este foi o início de um longo processo de inventário e restauração, que envolveu numerosas organizações.

A colaboração com peritos do Extremo Oriente foi também fundamental para a restauração dos materiais (porque os artigos manuscritos japoneses antigos reagem de forma diferente aos tratamentos).

O significado simbólico da colaboração com instituições japonesas foi sublinhado por Dom Cesare Pasini, Prefeito da Biblioteca do Vaticano: "Trabalhando juntos em documentos que testemunham uma perseguição que durou dois séculos e meio - disse ele - pudemos construir uma experiência comum, que se concretizou num intercâmbio de habilidades e que se expandiu e aprofundou num conhecimento e estima mútuos. Apraz-nos expressar esta realidade positiva sob o nome de diplomacia cultural: mesmo onde a história tem causado feridas ou contrastes conhecidos ou nos colocou uns contra os outros, podemos construir compreensão e aceitação, harmonia e respeito, pesquisando e investigando, explicando e contextualizando, fazendo memória respeitosa de tudo e de todos. Esta não é uma mensagem casual, muito menos agora”.

Toda a coleção já foi finalmente digitalizada; e isto permitirá agora aos estudiosos iniciar suas pesquisas sobre tais documentos disponibilizados on-line a todos.

InfoANS

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