Argentina – Salesianos de Zarate: uma resposta concreta às necessidades dos viciados em drogas nas favelas e nos bairros carentes
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05 agosto 2022

(ANS - Zarate) – O centro 'Hogar de Cristo', da obra salesiana de Zarate, acolhe pessoas que queiram se desintoxicar. Eles compensam a dor de suas vidas servindo aos outros.

Barrio Nuevo, Zarate, cem quilômetros ao norte da cidade de Buenos Aires. É uma manhã nublada de inverno, o frio é mais sentido quando o único abrigo é um casaco. Em um lote de terra simples, um grupo de homens distribui porções de guisado; cerca de uma centena por dia. Eles estão cozinhando desde as nove da manhã e, embora a não sejam sempre as mesmas pessoas, o fazem de segunda a sexta, desde o ano passado. As atividades começaram no dia anterior, com o café da manhã, uma oração e um bate-papo.

Marcados pela vida - e pela morte - eles tomaram a decisão de mudar. E esta disposição abriu-lhes as portas do "Hogar de Cristo", onde vigoram duas regras básicas: são proibidos o uso de substâncias e a violência. Quanto ao resto, não importa o que a pessoa tenha feito ou de onde vem. Haverá tempo para isso. Antes de tudo a pessoa é acolhida, espera, escuta. Porque a coisa mais importante já ocorreu, a decisão de entrar lá. Tomás, 23 anos, sintetiza: "Há três possibilidades para uma pessoa que faz uso de drogas: ela é presa, enlouquece ou morre.... E eu não queria nenhuma destas três".

Este é o lema do 'Hogar de Cristo', uma resposta concreta às necessidades dos dependentes de drogas das favelas e dos bairros pobres, criado há uma década por iniciativa de alguns 'cura villeros' (padres das favelas) de Buenos Aires. A proposta foi retomada há cinco anos pela obra salesiana de Zarate, por meio da iniciativa do P. Antonio Fierens, que também abriu um espaço de prevenção para crianças e adolescentes que funciona todas as tardes, de segunda a sexta-feira. De uma forma tipicamente salesiana, ele visa prevenir antes que se torne vício.

Em 2021 foi realizada mais uma etapa: a abertura de casas de acolhimento para pessoas que querem se livrar do vício. Isto, como explicam os salesianos P. José García e P. Carlos Morena, ocorre por meio de diferentes etapas, cada uma ocorre em uma casinha diferente, todas muito simples:” Qualquer um que chegue ferido ou 'quebrado' será acolhido com carinho. Após algum tempo, os jovens são levados para uma fazenda, onde passam cerca de quatro meses, basicamente para que aprendam a olhar para dentro de si. É muito importante que o adicto descubra qual é a sua dor. Não para atenuá-la com alguma substância, mas para curá-la. Estes jovens chegam aqui em uma nova etapa, na qual buscam fortalecer seus recursos próprios para enfrentar o uso de substâncias. E em uma última etapa podem sair para trabalhar, administrar seu dinheiro, tentar recuperar sua família, seus filhos...", explica o P. Morena, o diretor da obra.

O processo nem sempre é linear. Muitos recaem e voltam às drogas. Mas o 'Hogar' mesmo assim abre a porta para eles. "A primeira coisa que os jovens fazem quando chegam é comer e dormir, às vezes porque acabaram de passar uma semana drogados. Em poucos dias eles recuperam o peso perdido, porque as drogas dão vontade de comer", continua o P. García. Embora alguns sejam mais jovens, a maioria tem mais de 30 anos: "Chegam a uma idade em que não suportam mais continuar consumindo e fugindo; o corpo diz 'basta!

A mesma cena se repete em uma casa no bairro Reysol, nos corredores da capela 'Santo Afonso' e da paróquia São José': os próprios internos em recuperação cozinham para o projeto 'panelas populares' (cantinas para os pobres) que diariamente fornecem alimento para cerca de 800 pessoas da região.

"Levantamos cedo para preparar tudo". Isso nos ajuda a nos sentir úteis. Muitas vezes chegamos a roubar das pessoas. Os jovens que não têm nada só sabem roubar para poder se drogar ou comer. Hoje estamos do outro lado, tentando fazer bem as coisas e procurando não cometer os mesmos erros. E as pessoas nos apoiam para o que fazemos, mesmo que outros que não entendam", conta Raúl, 48 anos.

Ele é um dos "au pairs", pessoas que conseguiram superar a dependência e que coordenam a vida de cada casa. "Estou 'limpo' há um ano e oito meses". É difícil, eu ainda estou lutando. O vício não é curado, é tratado. Eu moro com os viciados, nos ajudamos mutuamente porque nos entendemos, podemos conversar", acrescenta.

São estas pessoas - que viveram a tragédia do vício e sobreviveram – a expor uma sociedade que exclui um segmento cada vez maior da população, deixando-os sem a possibilidade de ganhar a vida com dignidade, de receber uma educação, de sentar-se à mesa como uma família. "Precisamos que a sociedade pare de ignorar este lado, que ajude, que faça perguntas". Precisamos procurar compreender por que aquele jovem age assim, por que rouba, por que usa drogas, qual a sua dor, o que aconteceu em sua vida... precisamos falar sobre isso", resume Raúl.

No Barrio Nuevo, as porções de guisado já foram distribuídas entre os vizinhos, e os jovens compartilharam o almoço com o P. Moreno. "Nacho", 35 anos, que era pedreiro, agora coordena a construção de uma casinha simples onde possam morar outras pessoas que precisam se recuperar do vício. "Quando cheguei ao 'Hogar' eles me acolheram em um lugar quente, com uma cama e um cobertor. Por isso eu, de coração, tento fazer isso para que os outros jovens, quando chegarem, também tenham um lugar para ficar, um lugar decente", diz Nacho enquanto instala a nova porta na casinha... uma porta que estará sempre aberta.

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