A Religiosa foi convidada a traçar um paralelo entre esses dois grandes Santos salesianos canonizados recentemente, por ocasião da quarta comemoração litúrgica de Santo Artêmides Zatti, em 13 de novembro de 2025.
Segue abaixo sua reflexão.
O tema que me foi confiado é fazer um paralelo entre esses dois gigantes da santidade salesiana — Zatti e Troncatti — , canonizados, respectivamente, em 9 de outubro de 2022 e 19 de outubro de 2025. Em minhas pesquisas, identifiquei mais de trinta elementos comuns em suas vidas, características, acontecimentos, escolhas, que Deus, em sua amorosa criatividade, quis entrelaçar. Por questão de espaço, destaco apenas alguns.
São pioneiros:
- Zatti é o primeiro santo salesiano não mártir a ser canonizado;
- Troncatti é a primeira santa FMA após a cofundadora.
Origens e vocação:
-Zatti era italiano, nascido em Boretto (Reggio Emilia) na década de 1880. Levava Maria como segundo nome, trabalhou no campo quando jovem e viveu a dor da migração ao mudar-se com a família para a Argentina. Como salesiano coadjutor, realizou plenamente o sonho de Dom Bosco: servir os mais pobres, os doentes, especialmente os povos indígenas.
- Troncatti, também italiana, nasceu em Corteno Golgi (Brescia) no mesmo período. Levava Maria como primeiro nome e vinha igualmente de uma família de agricultores. Em 1905, viveu um doloroso distanciamento dos pais: o pai, dominado pelo sofrimento, desmaiou quando ela deixou a casa para ingressar em Nizza Monferrato. Em 1922, antes de partir para a missão, ao retornar para pedir permissão à família, os pais lhe disseram: “Imagine ter diante de você dois caixões”. A irmã Maria não quis mais voltar para a Itália, tamanha era a saudade de sua terra, sua família, sua língua e sua cultura. Ela dizia: “Quando nos doamos uma vez, nos doamos para sempre”.
A doença como caminho de Deus
Ambos foram marcados pela doença no início da vida salesiana.
No começo do século XX, Zatti, então aspirante, contraiu tuberculose ao cuidar de um jovem Coirmão sacerdote gravemente enfermo. Para se recuperar, foi enviado em 1902 a Junín de los Andes, onde naquele período vivia no colégio das FMA a beata Laura Vicuña. Seu desejo de ser sacerdote foi frustrado pela doença, mas ele acolheu o fato como sinal da Providência e escolheu tornar-se salesiano coadjutor.
Durante o postulantado e o noviciado, a Ir. Maria Troncatti tinha uma saúde muito frágil. A difícil adaptação à vida comunitária e à disciplina de Nizza Monferrato a debilitou; mas a oração ao Sagrado Coração de Jesus e a Dom Bosco lhe devolveu a serenidade. Uma infecção no dedo — que parecia exigir amputação — levou as superioras a permitir que ela fizesse a primeira profissão ‘sub conditione’, em 1908. No ano seguinte, acometida pelo tifo em Rosignano Monferrato, correu risco de morte. Transferida a Nizza, conheceu o P. Rua, que rezou com ela a Maria Auxiliadora e a Dom Bosco: a jovem melhorou milagrosamente e pôde continuar seu caminho vocacional.
Duas promessas à Auxiliadora
Ambos fizeram uma promessa à Virgem Auxiliadora em momentos decisivos.
- Quando o P. Garrone viu que Zatti não melhorava da doença, convidou-o a confiar na «Madonna». Zatti prometeu que, se ele se recuperasse, dedicaria toda a vida aos enfermos. Foi atendido. O episódio ficou sintetizado nas célebres palavras:
“Acreditei, prometi, fui curado”.
- A Ir. Maria, por sua vez, se encontrava em Varazze durante a terrível enchente de 25 de junho de 1915. A água destruiu o muro do instituto e invadiu os quartos onde ela e a Ir. Chiara se encontravam. Em perigo de vida, fez uma promessa à Auxiliadora: “Se me salvares, e salvares meu irmão Giacomino, que está na guerra, prometo que irei para as missões”. Ao sobreviver milagrosamente, em 4 de novembro apresentou o pedido para ser enviada como missionária entre as pessoas afetadas por hanseníase.
Enfermeiros por vocação
Ambos se dedicaram profissionalmente ao cuidado dos doentes.
- Zatti, impossibilitado de tornar-se sacerdote, manteve a promessa e estudou enfermagem, obtendo, em 1905, também o título de farmacêutico.
- A Ir. Maria, em 1915, foi enviada por obediência a um curso de Cruz Vermelha para atuar na Primeira Guerra Mundial. Aprendeu a arte paciente do cuidado, e entendeu, por experiência, que mais do que as feridas do corpo, o que dói é a ferida da alma, do coração.
Sinais da vontade de Deus
- Para ambos, a doença e o sofrimento revelaram a vontade divina.
Para Zatti, a tuberculose o conduziu ao caminho do ‘coadjutorado’; para a Ir. Maria, a voz de Deus chegou por meio de uma jovem enferma que, em 1922, predisse sua missão no Equador. Poucos dias depois, a Madre Geral, Ir. Caterina Daghero, confirmou oficialmente a sua destinação.
Mesmo espírito, mesmo coração
Ambos eram chamados por nomes que expressam familiaridade e ternura:
- Zatti era “o parente de todos os pobres”;
- Troncatti, “la madrecita buena”.
Ambos fundaram hospitais e formaram enfermeiros: Zatti para garantir uma equipe estável na instituição; Troncatti para enviar jovens formadas às aldeias da selva.
Ambos visitavam os doentes em casa: Zatti de bicicleta e rosário na mão; Troncatti com sua maleta médica e rosário, a pé ou a cavalo.
Ambos tinham predileção pelos enfermos mais abandonados.
Os milagres e o sinal do “Da mihi animas”
Até nos milagres reconhecidos para a canonização há paralelos: ambos envolveram curas no cérebro — um AVC cerebelar para Zatti e um traumatismo craniano grave para Troncatti — e, nos dois casos, os beneficiados eram pessoas pobres.
Ambos encarnaram a recomendação de Dom Bosco aos missionários:
“Cuidem especialmente dos enfermos, das crianças, dos idosos e dos pobres, e conquistarão a bênção de Deus e a benevolência dos homens.”
Conclusão
Podemos dizer que Deus se divertiu entrelaçando suas vidas numa surpreendente harmonia de graça.
Zatti e Troncatti parecem realmente gêmeos espirituais: diferentes em suas histórias, mas unidos pelo mesmo Espírito; semelhantes nos sentimentos que foram os de Cristo Jesus (cf. Fl 2,5), movidos pelo anseio apostólico do «Da mihi animas».
Ir. Francesca Caggiano FMA
