Israel – Belém e a padaria que une cristãos e muçulmanos
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30 agosto 2017

(ANS - Belém) – Histórias de convivência entre cristãos e islâmicos. Viagem à Cisjordânia, onde os Salesianos acompanham e apoiam a população reforçando as ligações entre as duas comunidades.

                                                                                              Cristina Uguccioni

Esta história – que acompanha os passos da boa semente da proximidade numa área do mundo marcada por tensões e conflitos – começa na segunda metade do século 19, quando o P. Antonio Belloni, sacerdote originário da Ligúria, parte em missão para a Terra Santa. Ali, ele funda uma pequena congregação empenhada na educação dos jovens e abre algumas estruturas em três localidades. Em Belém, inaugura um orfanato, no qual as crianças começam a viver e estudar, e uma padaria para garantir o sustento da obra. Passam-se os anos e, desejando garantir continuidade à sua congregação, o sacerdote começa a cultivar o desejo de unir-se aos Salesianos. Manifesta esse desejo ao amigo Dom Bosco, que concorda. Em 1891, os primeiros Salesianos chegam à Terra Santa e colocam-se ao trabalho com o P. Belloni.

Muitas obras, uma só finalidade

Hoje, na Palestina, os Salesianos (de uma dezena de nacionalidades) continuam a trabalhar nas estruturas herdadas do sacerdote lígure além de terem fundado outras. Em Belém, o orfanato, que não tem mais alunos internos, é uma escola profissional: 150 rapazes de 15 a 18 anos acompanham os cursos trienais enquanto 160, de 18 a 30 anos, frequentam cursos rápidos, com duração de um ano. Foi aberto um grande oratório ao qual se acrescentaram depois o museu do presépio e um centro para a produção de manufaturados em madrepérola, azeitona e cerâmica feitos segundo a tradição local. Entretanto, ininterruptamente desde o final do século 19, a padaria continua a oferece bom pão. Muitas atividades, uma só finalidade: educar os jovens, preparando-os para enfrentar a vida, reforçar os laços sociais, apoiar a população cuidando de quem mais precisa.

 

As boas relações

«Aqui em Belém, onde os cristãos são 33% da população (cerca de 12 mil pessoas), as nossas obras são frequentadas por jovens cristãos e muçulmanos (a maioria) e ali trabalham pessoas das duas religiões. A convivência sempre foi boa e surgiram relações de amizade sincera”, diz o P. Piergiorgio Gianazza: 72 anos (dos quais 56 passados no Oriente Médio), é vice-inspetor da Inspetoria Salesiana do Oriente Médio (que compreende 6 nações), vive em Belém e ensina teologia dogmática na sessão de Jerusalém da Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia Salesiana de Roma.

O sistema educativo

Os pais muçulmanos matriculam com muito bom gosto os seus filhos na escola salesiana, que consideram um método educativo de excelência. “Perceberam que não fazemos distinção quanto à fé e demonstram sincero apreço pelo sistema educativo de Dom Bosco cujos pilares são razão, religião e bondade: ou seja, diálogo e confronto, reconhecimento da dimensão religiosa como dimensão constitutiva do ser humano, estilo acolhedor e diligente nas relações”, diz o P. Piergiorgio. “Os nossos alunos muçulmanos são, de certa forma os nossos primeiros missionários entre o povo porque, fortalecidos na sua feliz experiência na escola, são capazes de desmentir os que continuam a considerar os cristãos como descrentes e colonizadores”.

O agente muçulmano

Entre o pessoal há Khader Abdel Qader Dàadara – muçulmano, 43 anos, casado e pai de 5 filhos, responsável pela limpeza da escola – que diz: “Gosto de trabalhar aqui: trabalho com um cristão com quem estou muito de acordo, ajudamo-nos reciprocamente. Infelizmente, o custo de vida em Belém é elevado para mim, como para muitíssimos meus concidadãos, o salário nunca é suficiente para garantir as despesas familiares. Entre 50 dependentes das obras salesianas, as relações são boas, não condicionadas nem pelos papéis nem pela fé professada. O respeito recíproco e a realização honesta dos próprios serviços são valores compartilhados”.

O bom pão

Entre as obras herdadas do P. Belloni há a padaria em que, sob a supervisão dos Salesianos, trabalham seis pessoas. Por muito tempo, a padaria sustentou principalmente as crianças do orfanato e, depois, os alunos da escola. Tornou-se um ponto de referência para toda a população desde a segunda Intifada, quando em 2002 Belém viveu dias duríssimos, conta o P. Piergiorgio: “A nossa padaria conseguiu garantir pão para todos, também gratuitamente; recordo que se trabalhava dia e noite, sem parar. Desde então, grande parte dos cidadãos, fazem suas compras aqui, e 120 famílias carentes da cidade (assistidas por nós) recebem os nossos produtos a um preço mensal simbólico. Fico feliz que em Belém, cujo significado em hebraico é “casa do pão”, haja uma padaria que nutre a população e ajuda as pessoas mais vulneráveis contribuindo para apoiar a ligação entre cristãos e muçulmanos”.

A situação na cidade

De acordo com Khader, a cidade, que por séculos foi habitada por cristãos e muçulmanos, “distingue-se pela tolerância, respeito, fraternidade entre os fiéis das duas religiões. Buscamos a compreensão recíproca e as relações de boa vizinhança. As conversas e as discussões que acontecem entre nós nunca acabam em litígios. Quando nós muçulmanos ouvimos o sino das igrejas, é como se escutássemos a chamada para a nossa oração”. E acrescenta: “O meu relacionamento pessoal com os cristãos é amigável. Respeitamo-nos, compartilhamos momentos de alegria e de dor, sempre procuramos estar de acordo e viver em paz”.

Os peregrinos cristãos e a decisão de Arafat

Na cidade, a convivência entre os fiéis das duas religiões é pacífica, observa P. Piergiorgio: “Jamais se verificaram brigas entre as duas comunidades nem atos de fanatismo. Arafat estabeleceu que oito pequenas cidades palestinense – entre as quais Belém – sempre tivessem um prefeito cristão: essa decisão favoreceu, sem dúvida, as relações normais entre as duas comunidades. O contínuo afluxo de peregrinos cristãos, que sustentam a economia local e as muitas obras educativas, sociais, sanitárias, edificadas pelos cristãos em benefício da população também contribuem para manter o clima de distensão. Foram também iniciados projetos interessantes para reforçar as ligações e promover a compreensão recíproca: alguns intelectuais cristãos e muçulmanos, por exemplo, iniciaram um grupo que publica uma revista, Al liga (O encontro), em que qualquer assunto é enfrentado de modo profundo pelos dois pontos de vista: é uma iniciativa louvável, da qual também eu participei com alguns textos”.

O papel das religiões

“As pessoas de religião diferente que vivem autenticamente a própria fé e conseguem viver juntos na concórdia, testemunham que as religiões promovem a fraternidade e a paz”, sublinha P. Piergiorgio: “Os problemas, infelizmente, surgem quando as religiões são instrumentalizadas para fins políticos ou econômicos, alterando a sua essência”. Conclui a respeito Khader: “Creio que a convivência pacífica entre pessoas de fé diversa mostre ao mundo que a linguagem do amor, da tolerância, do perdão e da compreensão faz evitar o extremismo. Nós, aqui, empenhamo-nos para fazer crescer uma nova geração, mais instruída, mais consciente: rapazes e moças capazes de caminhar de mãos dadas. Certamente, existem diferenças entre muçulmanos e cristão, contudo possuímos princípios comuns: a moralidade, a lei de Deus”.

Fonte: http://www.lastampa.it/vaticaninsider/ita

InfoANS

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