Avançam dois tipos de deserto
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10 julho 2019

Aqueles que profetizam desastres nunca foram bem vistos. Hoje menos ainda. Vivemos numa época em que milhões de pessoas ainda acreditam no mito de que a tecnologia resolve tudo.

O pensador chileno Cristián Warnken nos ajuda a olhar para a "desertificação" como uma experiência. Uma  experiência em vários níveis:

Sei que muitos de vocês estão preocupados com a mudança climática. Talvez seus filhos sejam os últimos a conhecer e desfrutar a Terra assim como a conhecemos e amamos hoje: com primaveras, invernos, verões e outonos claros e distintos. Talvez vocês sejam os últimos a ouvir as canções da primavera das andorinhas em nossos jardins.

E depois continua identificando diferentes "desertificações":

Crianças, todos os dias vocês me fazem reciclar papel, separá-lo do plástico, vocês me fazem tomar consciência da importância destes pequenos gestos para cuidar desse frágil planeta. Mas, crianças – meus mestres em muitos aspectos – isto não é suficiente. Porque esta desertificação é resultado de outra, mais profunda e invisível: a desertificação interior. De nada serve separar os resíduos recicláveis ​​de materiais plásticos e tóxicos, se não o fizermos também dentro de nós mesmos.

De fato, Warnken afirma uma grande verdade quando diz:

A desertificação interna cresce quando perdemos a capacidade de admirar, quando não nos surpreendemos com uma nuvem que passa, quando nos esquecemos de abraçar uma árvore, quando acreditamos que tudo pode ser comprado e vendido, quando precificamos tudo e consideramos o reino da quantidade como mais importante que o reino da gratuidade. Gratuidade? Sim, a coisa mais essencial, aquilo que pode nos salvar como espécie, é grátis, é um presente, um dom. Ainda não colocaram um preço nas estrelas, no ar... Ainda não se vendem no mercado os abraços que damos uns aos outros antes de adormecer ou quando acordamos.

Por esta razão, ele nos convida a discernir:

Mas olhem em volta: o homem já está se tornando escravo de suas invenções e, pior ainda, acha que hoje é mais livre do que nunca. Em suma, crianças, são dois os desertos que avançam: o externo e o interno. Mas o interno é o que mais me preocupa, porque é muito fácil não enxergá-lo. Especialmente hoje, quando parece que temos tudo...

A reflexão deste escritor nos permite concluir que os jovens precisam aprender a cultivar seu próprio jardim interior, porque o significado de sua existência não lhes é dado antecipadamente; é necessário primeiro descobrir a beleza do espírito. Uma tarefa difícil, em uma cultura utilitarista, marcada pela superficialidade, pelo exibicionismo, pelo descartável, pelo imediatismo. No entanto, dá esperança ver em nossos jovens o desejo de estabelecer relações de encontro, valorizar a vida em todas as suas expressões, a busca de uma espiritualidade para o desenvolvimento da vida pessoal e o desejo de transcender, em todos os momentos, os fundamentos já alcançados.

Naturalmente, como adultos, precisamos, pais e educadores, verificar se estamos transmitindo "desertos" internos em vez de "jardins" espirituais. A bela tarefa de tornar nossas vidas lugares de alegria, experimentando profundamente a vocação recebida, é a melhor maneira de superar o avanço do "deserto". Não deixemos avançar a desertificação em nosso mundo!

(Cristián Warnken, Emol 13/9/2018)

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