EDITORIAL
Aqueles que profetizam desastres nunca foram bem vistos. Hoje menos ainda. Vivemos numa época em que milhões de pessoas ainda acreditam no mito de que a tecnologia resolve tudo.
Homem pressiona cotonete para dentro do ouvido e redefine suas configurações de fábrica.
O romance "O novo mundo", escrito em 1932, é sem dúvida uma das visões literárias que mais claramente anteciparam os eventos que estamos vivendo. O autor, Aldous Huxley, percebeu que, para manter um sistema de produção em massa funcionar, em vez de subjugar as pessoas com a força, era mais produtivo fazê-lo, oferecendo pequenas, mas constantes, recompensas. As pessoas, assim, teriam uma ilusão de felicidade no consumo, de tal maneira que se disponibilizariam a sacrificar sua liberdade.
Há no Céu um oratório salesiano. A porta está sempre aberta. O último a chegar foi Saged Mezher, um rapaz “muçulmano” da nossa escola de eletrônica: vem de um campo de refugiados de Dehesha, Cisjordânia. Estudava no colegial, quando os soldados entraram no campo para prender algumas pessoas: o desfecho foram violentos entrechoques a tiros. Difícil parar gente com fuzil-metralhadora na mão. A gente corria a esconder-se gritando. O grito dos feridos arranhava o Céu e o coração de Saged (que fazia parte do grupo de Pronto Socorro do Campo). Saiu da escola, botou o avental com a insígnia do grupo sanitário e correu para prestar socorro a alguns homens feridos que jaziam por terra. Tentava reerguer um deles, todo lacerado, quando um projétil furou o peito de Saged. Levaram-no ao hospital Hussein. Depois a um hospital especializado. Três horas agitadas de cirurgia... Tudo em vão: Saged morreu. A porta do oratório celeste estava aberta... : como os bem-aventurados do Evangelho, vive no coração de Deus.