No sábado, 20 de fevereiro, Luca Attanasio havia chegado a Bukavu, vindo de Goma. Durante o trajeto de Goma a Bukavu, ele parou para visitar alguns dos projetos do Programa Mundial de Alimentos (PMA) em favor das pessoas deslocadas (estima-se que haja cerca de cinco milhões de pessoas no país, principalmente mulheres e crianças).
Às 16h30, o embaixador teve um encontro com a pequena comunidade italiana de Bukavu (cerca de 25 pessoas, quase todas religiosas) na casa provincial dos Xaverianos. Como embaixador, Attanasio costumava visitar seus compatriotas pelo menos uma vez por ano, colocando-se à disposição daqueles que precisavam renovar seus documentos, para evitar que os italianos residentes no Oriente precisassem enfrentar uma viagem cara a Kinshasa.
Daquela vez, como sempre, ele havia sido muito cordial: trazia notícias de Kinshasa (onde ele e a sua família foram vítimas de Covid-19), pediu notícias, ouviu o Vice-Diretor do PMA, Rocco Leone, apresentou Vittorio Iacovacci, o carabineiro que era seu guarda-costas, manifestou interesse em ter um representante consular em Goma... Em seguida fomos a uma recepção e nos despedimos, com a promessa de que, da próxima vez, ele visitaria nossa escola de ofícios… No dia seguinte ele partiu para Goma, onde encontraria a comunidade italiana. Creio que na segunda-feira ele ia visitar outros centros assistidos pelo PMA ao norte de Goma.
Eu me permito duas considerações. Um embaixador italiano assassinado é notícia. Em Kivu do Norte e do Sul, centenas de pessoas são mortas todos os anos por grupos armados. Infelizmente, eles não chegam aos noticiários... Esperamos que este assassinato force as Autoridades a tomarem medidas para pacificar a nossa região e todo o Leste do Congo.
Em várias regiões, grupos armados recrutam seus combatentes entre jovens do interior, que vivem na miséria e não têm perspectivas de futuro. Há alguns anos, quando estive em Goma, os professores fizeram um movimento de greve por reivindicações salariais. Alguns meninos maiores, que haviam estado nos grupos armados, os ameaçaram: se não nos deixarem estudar, voltaremos para a floresta. A pacificação do leste do Congo virá quando houver condições de vida e desenvolvimento para todos.
O Embaixador Attanasio era muito sensível a este aspecto e foi morto enquanto estava a caminho para visitar algumas obras de socorro e desenvolvimento.
Os Salesianos de Goma, Bukavu, Uvira, acolhem nas escolas profissionais crianças vulneráveis (que podem ser atraídas por grupos armados), oferecendo a elas uma profissão e uma perspectiva de futuro. É a nossa contribuição para a construção da paz no leste do Congo.
