Vaticano – O Papa: o mundo será melhor se houver igualdade na diversidade entre homens e mulheres

08 março 2023
Foto ©: Vatican Media

(ANS – Cidade do Vaticano) – Publicamos o prefácio do Papa Francisco à obra “Mais liderança feminina para um mundo melhor: o cuidado como motor para a nossa Casa Comum”, organizado por Anna Maria Tarantola e publicado pela Editora Vita e Pensiero. O texto é o resultado de uma pesquisa comum promovida pela Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice e pela Aliança Estratégica de Universidades Católicas de Pesquisa (Sacru). A pesquisa será apresentada no dia 10 de março às 14h30 no ‘Istituto Maria Santissima Bambina’, em Roma

O Papa Francisco escreve:

Este livro fala de mulheres, tanto de seus talentos, de suas habilidades e qualificações, quanto das desigualdades, violências e preconceitos que ainda caracterizam o mundo feminino. As questões da mulher são particularmente importantes para mim. Em muitas de minhas falas referi-me a elas, enfatizando o quanto ainda resta por fazer para uma plena valorização da mulher. Entre outras coisas, pude afirmar que “O homem e a mulher não são iguais e um não é superior ao outro, não. O homem não traz harmonia: é ela a portadora de harmonia, a que nos ensina a acariciar, a amar com ternura, e que torna belo o mundo” (Homilia em Santa Marta, 9 de fevereiro de 2017). Precisamos de tanta harmonia para combater a injustiça, a cobiça cega, que prejudica as pessoas e o meio ambiente; combater a guerra injusta e inaceitável.

Este livro é o resultado de uma pesquisa comum promovida pela Fundação Centesimus Annus Pro Pontifice e pela Aliança Estratégica de Universidades Católicas de Pesquisa, que contou com a participação de 15 acadêmicos de várias disciplinas de 10 universidades de 8 países. Gosto que o tema seja tratado de um ponto de vista multidisciplinar. Diferentes abordagens e análises permitem uma visão ampla dos problemas e a busca de melhores soluções. A pesquisa evidencia tanto as dificuldades que ainda são enfrentadas pelas mulheres para alcançar papéis de destaque no mundo do trabalho, como as vantagens associadas à sua maior presença nas esferas da economia, da política, da própria sociedade. A mesma Igreja pode se beneficiar da valorização da mulher: como disse em meu discurso na conclusão do Sínodo dos Bispos da Região Pan-Amazônica, em outubro de 2019: "Não percebemos o que a mulher significa na Igreja. Limitamo-nos somente à parte funcional [....]. Mas o papel da mulher na Igreja passa para muito além da funcionalidade. Para muito além. Sobre isso há que continuar a trabalhar”.

Não se pode desejar um mundo melhor, mais justo, inclusivo e totalmente sustentável sem a contribuição das mulheres. Portanto, devemos trabalhar, todos juntos, para abrir oportunidades iguais para homens e mulheres, em todos os contextos, buscar uma situação estável e duradoura de igualdade na diversidade, porque o caminho da afirmação feminina é recente, conturbado e, infelizmente, não definitivo. E ainda se pode muito bem voltar. O modo de pensar das mulheres é diferente do dos homens; elas estão mais atentas à proteção ambiental; seu olhar não está voltado ao passado, se dirige ao futuro. As mulheres sabem que dão à luz entre dores para causar uma grande alegria: a de dar a vida e a de abrir vastos e novos horizontes; é por isso que as mulheres querem a paz, sempre. Elas sabem expressar, a um só tempo, força e ternura: são amáveis, competentes, preparadas. Sabem inspirar não só os próprios filhos, mas gerações inteiras!

É justo que elas possam expressar estas suas habilidades em todos os âmbitos, não só no familiar, e possam ser remuneradas igualmente, como os homens, por papéis iguais, compromisso e responsabilidade. As lacunas que ainda persistem são uma grave injustiça. Essas lacunas, juntamente com os preconceitos, estão na raiz da violência contra as mulheres. Muitas vezes condenei esse fenômeno; em 22 de setembro de 2021 eu disse que a violência contra a mulher é uma praga aberta resultante de uma cultura de opressão patriarcal e machista. Há que achar o remédio para curar este flagelo, e não deixar as mulheres sozinhas. A pesquisa aqui apresentada e as conclusões alcançadas buscam sanar o flagelo da desigualdade e, desta forma, a violência.

Gosto de pensar que se as mulheres pudessem desfrutar de plena igualdade de oportunidades também poderiam contribuir substancialmente para a mudança, necessária por um mundo de paz, inclusão, solidariedade e sustentabilidade integral. Como lembrei no Dia Internacional da Mulher em 8 de março de 2019, as mulheres tornam o mundo mais belo, protegem-no, mantêm-no vivo. Trazem a graça da renovação, o abraço da inclusão, a coragem da dedicação.

A paz, portanto, nasce da mulher: renasce e se reascende com a ternura das mães. O sonho da paz torna-se realidade quando se contemplam as mulheres. E penso que, como emerge da pesquisa, a igualdade deva ser alcançada na diversidade. Não na igualdade, para que as mulheres adotem o comportamento dos homens, masculino, mas naquela igualdade que abre as portas do campo de jogo a todos os jogadores, sem diferenças de gênero, cor, religião, cultura. Isso é o que os economistas chamam de diversidade eficiente. É bom pensar num mundo onde todos vivam em harmonia e todos possam ver os próprios talentos reconhecidos e contribuir para a criação de um mundo melhor. A capacidade de cuidar, por exemplo, é sem dúvida uma característica feminina, que deve poder se expressar não só dentro da família mas igualmente, e com excelentes resultados, na política, economia, ciência, trabalho...

Todos devemos expressar a capacidade de cuidar, homens e mulheres. Os homens também podem cultivar essa habilidade na paternidade: que família linda onde ambos os genitores, mães e pais – juntos - cuidam dos filhos, ajudam-nos a crescer com saúde, educam-nos a respeitar as pessoas e as coisas - na bondade, na misericórdia, na proteção de criação.

Está-me também a peito lembrar quão importante seja a educação: a educação é o caminho principal, por um lado, para dotar as mulheres das habilitações e conhecimentos necessários para enfrentar os novos desafios do mundo do trabalho e, por outro, para facilitar a evolução na cultura patriarcal, ainda predominante. Infelizmente, hoje ainda, são cerca de 130 milhões as moças que no mundo não frequentam a escola. Não há liberdade, justiça, desenvolvimento integral, democracia e paz sem educação.

InfoANS

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