Com a chegada do mês de maio, tradicionalmente dedicado a Maria, o autor do artigo, P. Giovanni Bonetti, sugere uma reflexão aprofundada sobre a conexão espiritual e teológica entre o Coração de Maria e o Coração de Jesus. O texto inicia com uma introdução poética sugestiva, na qual Maria é comparada à aurora, simbolizando pureza e esperança. A partir desse ponto, inicia-se uma reflexão sobre a importância do culto dedicado a ambos os Corações, considerados indissociáveis em sua missão singular de salvar a humanidade e em sua participação no sofrimento humano.
Os Corações de Jesus e Maria são apresentados como unidos por um vínculo único de consonância, amor e compartilhamento no sacrifício da Cruz. "Certamente entre o Coração de Jesus e o Coração de Maria: existe uma relação e semelhança de natureza tal; e reina uma intimidade de inteligência e amor tal, que não se poderia conceber maior ou mais perfeita", diz o artigo.
O autor destaca a grandeza super-humana e, ao mesmo tempo, totalmente humana desses dois Corações: puros, imunes de pecado, vastos em amor e sofrimento. Segundo a doutrina cristã, sua união íntima também se reflete na evolução histórica do culto dedicado a Eles, embora sob distinção formal. O Coração de Jesus recebe um culto de "latria", ou seja, de total adoração, exclusivo para Deus; por outro lado, o Coração de Maria recebe apenas um culto de "hiperdulia", superior ao dos Anjos e Santos, mas ainda assim relativo a uma criatura.
O nascimento dos dois cultos remonta à França do século XVII, com duas figuras humildes e devotas: Santa Margarida Maria Alacoque, para o Sagrado Coração de Jesus, e São João Eudes, para o Coração de Maria. Em uma época marcada pelo início da decadência moral e religiosa da Europa, as duas devoções se espalharam gradualmente para restaurar o vínculo entre a natureza e o sobrenatural, entre a humanidade e a divindade.
É notável, seja pela sofisticação estilística como pela popularidade da alusão, a comparação com o rio Nilo, cujas origens só foram descobertas após muito tempo: assim como esse rio cresce gradualmente e torna as terras que atravessa extremamente férteis, essas duas Devoções curam e beneficiam aqueles que com elas se conectam.
Na segunda parte do artigo, a reflexão se concentra em denunciar a oposição que essas devoções encontraram, desde o início, decorrentes do jansenismo e, de modo mais geral, de intelectuais racionalistas e anticlericais. Tais oponentes acusaram essas formas ‘de piedade idolátrica, julgando erroneamente a precisão doutrinária e o equilíbrio do Culto cristão.
Mas tal hostilidade não deve desanimar os Fiéis. Em primeiro lugar, ela é quase uma prova da veracidade e do fundamento dessas devoções. Observa ainda o autor: "quanto mais orgulhosas as hostilidades, maior é o BEM que ‘pretendem’ combater". Em segundo lugar, elas devem ser respondidas por uma união ainda mais estreita. Se os inimigos de Deus atacam as duas devoções juntas, os fiéis devem celebrá-las ainda mais unidas, reconhecendo-lhes a sua total unidade e complementaridade.
Entretanto, se algo de bom se pode extrair dessas hostilidades, é uma apreciação ainda maior do papel de Maria e de seu Imaculado Coração como mediadora oportuna para Jesus e seu Sagrado Coração. Ela é o caminho, o "espelho" que reflete os raios de seu Filho, ela é o "ostensório" que o mostra: por meio de seu Coração, pode-se contemplar os tesouros escondidos no Coração de Jesus.
Na conclusão, o autor convida os fiéis a se dirigirem a Ela com especial fervor durante o mês mariano, a fim de que ela possa interceder pela humanidade, acelerar a consagração da Igreja ao Coração de Jesus no Castro Pretorio em Roma; e selar eternamente a união entre as duas Devoções. O texto conclui fazendo referência aos templos salesianos de Roma e Turim, representações do Sagrado Coração e de Maria Auxiliadora, considerados monumentos perenes de Fé e de Caridade.
O texto completo do artigo escrito para o Boletim Salesiano de 1886 está disponível na versão original italiana da época, no final da página.